#23 pensamentos de uma solteira de 23 anos
para saber sobre a insalubridade do mundo dos solteiros converse por 10min sobre relacionamentos com uma mulher hétero
literatura básica: a prateleira do amor; a agonia do eros, tudo sobre o amor, podcast no espelho da manuela xavier.
em comemoração ao meu quinto ano solteira sem encontrar um seth cohen, vamos lá:
estou me segurando para não começar isso aqui com ‘quem casou, casou haushaushau’. esse pensamento é falacioso. pressupõe que todas pessoas disponíveis são uma bomba - e você teria que escolher a menos pior.
ao mesmo tempo, existe sim uma lógica da escassez que empurra mulheres para aceitar o mínimo.
ninguém fica surpreso quando um homem mediano não fica mais que meses solteiro porque sempre tem uma mulher interessante disponível para um relacionamento com ele.
mas mulheres interessantes que ficam solteiras por opção ‘por tempo demais’ fazem com que seja formado um complô para descobrir o que haveria de errado com a coitada.
a maioria das pessoas não entende que é melhor ficar sozinha do que ficar com um encosto. e tá tudo bem. pouco importa o que as outras pessoas pensam quando você tá confortável com você.
talvez você vá ver suas amigas noivando, casando e tendo filhos e vá estar solteira. se elas te olharem com dó, arrume outras amigas.
mas também não é para cair na lógica neoliberal da alta performance que faz a gente acreditar que para merecer amor e coisas positivas temos que estar na nossa melhor versão. eu achava isso, escrevi sobre e estava errada. https://cecinepasmaju.substack.com/p/2-eu-nao-vou-morrer-sozinha?r=2xgrh2.
nada disso tem que ser merecido. amor é doação e não exige contrapartida. essa eu aprendi com a bell hooks e depois escrevi esse aqui: https://cecinepasmaju.substack.com/p/6-sobre-associar-ser-amada-com-merecer?r=2xgrh2
gostar do outro envolve uma entrega que a sociedade da performance não permite que a gente tenha. não é sobre o eu, é sobre o outro. é preciso alteridade para ter um relacionamento. não nos relacionamos com cópias de nós mesmos (graças a deus). leiam agonia do eros.
se entregar e experenciar a totalidade do que é se relacionar com o outro, envolve abrir mão de você. a parte boa pressupõe a parte ruim. a decepção é inerente. a necessidade de cortar tudo de ruim priva a gente de viver coisas reais.
você não vai encontrar muitas pessoas com letramento em relacionamentos, então seja você a pessoa com letramento em relacionamentos. e faça terapia. esse é o combo de blindagem contra pessoas confusas que gostam de confundir os outros.
nem tudo é machismo - mas existem coisas que são.
às vezes é melhor dividir a conta e não aceitar todos presentes possíveis. caras tem a tendência a acreditar que a contrapartida para esses mimos tem que vir de forma afetiva, física, sexual. a manuela xavier falou disso em um ep, não sei qual - logo, recomendo todos.
entenda a diferença entre a manifestação de vontade de assumir um compromisso e love bombing. por mais que você seja a pessoa mais incrível do mundo, o cara não deveria querer casar com você no primeiro encontro. espera-se que para querer casar, a pessoa te conheça antes.
também é bom diferenciar elogios de verdade de uma promoção de rivalidade feminina. se soa demais como ‘você não é como as outras mulheres’, pergunte o que há de errado em ser exatamente como as outras. e não confie nunca em um cara que diminui outra mulher para te enaltecer.
na mesma linha, a frase ‘você é tão madura para sua idade’ é, no mínimo, esquita.
é muito difícil entender que você não deve nada a ninguém, muito menos satisfação. mais difícil que ter algo sério, só ter algo casual.
homens héteros tendem a ver mulheres como troféus. dá-lhe prateleira do amor.
é muito difícil administrar reforçadores que são uma delícia mas não levam a lugar nenhum. dá vontade de subir na prateleira, de ser desejada, validada pelo olhar masculino. ser tratada como namorada mesmo não sendo namorada. isso trás uma satisfação instantânea - e uma ressaca tremenda em seguida.
ou você fala que quem quer faz e, quando quer, faz ou você está contribuindo para uma onda em que demonstrar desinteresse é cool e todo mundo quer pagar de gostoso e não vai atrás do que quer.
às vezes a necessidade absurda de uma pessoa não é amor, é dependência emocional.
por mais apaixonada que você esteja, você não morre de amor. sempre é possível se desapaixonar. se você está tendo que forçar algo, não é pra ser.
os mesmos caras que falam que admiram suas prioridades, são os que vão reclamar de serem trocados por elas. primeiro é o ‘nossa, que massa você acordar cedo para correr’ e depois o ‘não acredito que você vai passar menos tempo comigo porque tem que correr amanhã cedo’.
uma edição bem levinha nesse feriado s2