#2 eu (não) vou morrer sozinha.
eu acho. sobre flertes digitais, sinais e não ter que atender as expectativas dos outros.
disclaimer: achei que falar da minha vida amorosa seria o tema de abertura perfeito e me permiti ser a carrie bradshaw por algumas horas. literalmente eu agora com um copo de chá gelado:
seguem algumas informações a título de contexto:
to há uns anos solteira, tenho 23 anos, sem perspectiva nenhuma de um relacionamento amoroso. minha mãe já perguntou por aí se eu não sou lésbica (não que eu saiba).
se eu ganhasse um real a cada vez que falo “eu vou morrer sozinha” para minha terapeuta eu teria uma nota de 50 em mãos, no mínimo. eu acho que essa é uma daquelas coisas que você saber que não é real mas você assimilar que não é real é muito diferente, já que todo mundo está te dizendo o contrário.
para melhorar, eu acredito e faço questão de falar que acredito em sinais.
quando eu vou dormir 20:30 da noite no sábado, acordo 5:30 no domingo para cozinhar para a semana e treinar e vejo uma notificação de uma mensagem enviada 03:00 da manhã, por um cara possivelmente bêbado, eu não consigo não pensar: cara, é um sinal.
quando caras que estavam comigo, fizeram alguma merda gigantesca ou só foram extremamente confusos a ponto de serem cortados da minha vida voltam como-se-nada depois de eu passar meses trabalhando em mim mesma, tentando entender o que raios aconteceu, eu penso: é um sinal.
sinais de como eu estou puxando minha vida para um lado, tentando ser uma pessoa foda profissionalmente, nos meus hobbies, treinos, em casa - apenas para a parte amorosa da minha vida estar em um retrocesso exponencial há anos.
eu sei que toda minha questão com ser solteira na verdade está muito mais relacionada com padrões-de-comportamento-meus-que-não-vou-expor do que com esses “sinais”. e talvez o que me frustre tanto em tudo isso é que a área amorosa é a que menos tenho controle. mas a situação está tão tenebrosa para as solteiras no geral que fica até difícil não culpar os outros.
não vou entrar na falácia do “nem todo homem”, sei que generalizando dessa forma as mulheres heterossexuais praticamente estão dizendo “todo homem é um lixo e vou ter que aceitar um homem lixo” e que, em geral, no fenômeno você-não-tem-que-aceitar-tal-coisa das coaches do tiktok talvez estejamos tratando todas as pessoas como se elas fossem descartáveis e substituíveis.
vamos falar em um cenário ideal com base no material que tenho em mãos: conversas, muitas conversas, com as minhas (também solteiras) amigas. e infelizmente, o overview que eu tenho é que nós solteiras estamos no mapa da fome sim.
um dos grandes motivos para eu considerar que a situação está desastrosa é que nessa era de flertes digitais (top 10 piores lugares para se estar), entre curtidas sem significado nenhum e escassas mensagens, posso dizer que 1 em cada 100 homens sabe conversar. digo esses números pois o 1 homem que sabe ainda não chegou aqui, estou esperando os 100 passarem.
e olha, estou começando a gostar dos “homens curtidores”: os que curtem seu story, não te mandam mensagem, te encaram pessoalmente e se você quiser você que vai ter que chegar neles. eles dão menos trabalho.
eu costumava querer uma resposta no que eu posto, lembrando de épocas longínquas em que os caras fingiam interesse pelo livro que eu estava lindo ou diziam coisas que faziam sentido. hoje em dia, para mim, o pior tipo de resposta em story sempre vem sempre de um homem. juro que eu até evito postar meu pace em corridas porque tenho medo das respostas.
as coisas que já ouvi vão desde ”nossa eu nunca veria esse filme” - ok, proprietário da empresa Bom Gosto LDTA., não precisa assistir aí na sua casa - ou “faltou tal coisa na foto”, “seu delineado podia ser de tal jeito”, “gostava mais do seu cabelo assim”.
vocês tão entendendo por que eu acredito em sinais? o papo está tão fraco que estou tendo que procurar explicações em coincidências do universo.
OS HOMENS NÃO SABEM CONVERSAR. eu entendo que talvez eu tenha dedo podre (eu tenho dedo podre), mas ontem mesmo minha amiga estava contando que um cara está “conversando com ela por meio de reels”. é mais ou menos assim: todo dia ele encaminha um reels para ela, ela responde, ele curte e acaba. até o outro dia, quando ele encaminha um reels para ela…
entendem? é sério, apesar de tudo ser não tão sério a ponto de sair no pov homens, já que não tem ninguém cantando “maria julia A aaaa” na minha DM - mas um dia isso já aconteceu - e não recebo áudios de homens miando, embora tenha rido muito do tiktok que tinha isso. que dó da moça. quando a gente colocar letramento de gênero na cartilha dos homens, vamos começar com o comunicação não violenta. ou algo mais básico, por favor.
eu fico pensando: é isso? é isso que mulheres bonitas, engraçadas e inteligentes merecem? vamos fingir que não escrevi 5-9 ao invés de 9-5 e considerar esse substack meu. deixei o link do texto original no final:
complementando, tem uma trend no tiktok que me pegou recentemente. esses dias eu fritei tanto com tanta coisa que até desinstalei o app então não consigo entregar detalhes, mas segue print de um comentário meu e o nome para você localizar a trend, caso queira:
também é uma opinião minha que eu queria muito que estivesse errada, mas pelo visto 45 pessoas concordaram comigo. de todas as pessoas fazendo essa trend e provando serem altamente competentes e produtos, só vi mulheres. ou seja, de duas uma: ou (1) só mulheres são altamente competentes ou (2) só mulheres precisam provar que são altamente competentes em todas as áreas de sua vida.
sinceramente, não quero ser tão pessimista a ponto de acreditar na primeira opção, mas falando por mim, eu, recém formada, quase poliglota, fazendo minha pós, treinando todo dia, cuidando de casa, fazendo dieta, escrevendo aqui, lendo todo dia, não lembro quando foi a última conversa significativa que tive com um cara. mas lembro qual foi a última conversa esquisita que tirei print e mandei para minhas amigas.
e novamente, entendo que eu tenho minhas questões e aceito minha parcela de culpa. o que me pega é que, sem falar da solidão da mulher solteira em celibato voluntário. vamos falar sobre como não existe solidão do homem hétero. até porque se for um solteiro legal, I volunteer.
o cara solteiro tem tantas opções de meninas legais que chega a ser doidera. é tão injusto. as mulheres solteiras estão presas eternamente na fase dos 14 anos, de jogo de interesse, mensagens de madrugada e cancelamento de envio, enquanto equilibram duzentos pratos e tem que performar ainda.
às vezes ficar sozinha não me parece tão ruim assim. começar a ser maluca de volta também é uma opção. para mim, é só mais uma das coisas que preciso olhar e dizer Isso não sou eu.
indicações de uma solteira que passou tempo demais pensando sobre ser solteira para escrever essa newsletter:
Para você entender que o problema não é só você. Pelo menos comigo funcionou.
Para você ter material para explicar para quem encher o saco que não existe só amor romântico na vida.
Para não achar que tudo é sobre seguir uma série de passo a passos de coaches do tiktok.
Sobre ser mulher na sociedade da performance com o bônus das redes sociais.
E todos os outros livros dela. Para o coração ficar quentinho depois desse monte de conteúdo pesado. Sério.