#4 movimento de volta ao básico que funciona.
reject modernity, embrace tradition. lista de inegociáveis, dopamine menu, parar de usar estampas e voltar a usar fone com fio.
nada contra tentar coisas novas. todas nós precisamos de uma fase loira, a questão é o prazo de validade que você coloca na sua fase loira. também nada contra a fase chanel. e eu tenho licença poética porque já passei pelas duas e elas duraram um tempo significativo, viu. estou na fase morena natural, um dos componentes do que eu chamo básico-que-funciona. mas também pode ser entendido como: estou-tentando-fazer-isso-aqui-por-mim-não-me-atrapalhe.
é meu modo de encarar esse momento em que a impressão de que as coisas foram feitas para não funcionar deixa de ser uma impressão porque as coisas realmente estão sendo feitas para quebrarem na sua mão. obsolência programada, o nome. e não estou falando só da fonte de carregador da apple que está sendo trocada a cada 2 anos (e vendida separadamente, para melhorar).
as rotinas, estéticas, microtrends - arrisco dizer que até esportes: tudo feito para acabar em 1 mês. mês a mês você se sente um lixo por não ter/fazer algo e quando consegue já estamos no mês seguinte, em que não ter/fazer outra coisa te faz se sentir um lixo. tudo em nome do autocuidado, autoaperfeiçoamento: chegar na sua melhor versão.
autocuidado é uma expressão usada exacerbadamente nos últimos anos, cujo significado foi esvaziado. cuidar de você mesma não é adicionar um outro step na sua skin care routine. não é espremer 30min de meditação - perdendo 30min de sono - porque te disseram que é o que falta na sua manhã para você ser uma pessoa elevada espiritualmente.
falta uma autoconsciência. dificilmente paramos para pensar antes de adicionar mais um produto ou atividade (geralmente ligados à crescente indústria wellness) na rotina que já é corrida e é muito conveniente ser assim: achar que esse algo que precisa ser comprado/feito é o que falta, não caber na rotina, se sentir mal, ir atrás de outro algo…
é quase revolucionário abraçar o básico.



identificar o básico que funciona: larga seu celular e faz sua lista de inegociáveis, por favor.
na verdade, duvido que as pessoas no geral consigam dizer o que é o básico, inegociável para elas, quem dirá o básico que funciona.
tenho para mim que esse processo envolve se ouvir e é impossível se ouvir quando ou você está performando o tempo inteiro (eu me incluo nessa) ou você até quer fazer algo por você, mas como saber o que fazer no meio de tanto barulho, tanta informação, tantas opiniões, tantos tutoriais, tantos experts - tanta gente tentando te vender alguma coisa. entre essas coisas, o estilo de vida perfeito (que não necessariamente é perfeito para você, mas essa distinção convenientemente não é feita).
as pessoas tem que entender uma coisa: nosso cérebro não foi feito para isso. às vezes quando você se sente sobrecarregado, você realmente está sobrecarregado no sentido de que seu cérebro comporta uma carga X e você está socando 5X na sua cabeça todos os dias. todo hardware consegue processar só X de informação, por que que a gente trata nossa mente e energia como recursos infinitos?
eu tenho que te dizer uma coisa: se você acha que você está dando o seu melhor, mas você passa 2 horas fritando a cabeça no tiktok você não chegou no seu melhor. não é papo de coach, não estou dizendo que você poderia trabalhar 2 horas a mais e enquanto eles dormem etc. mas a ansiedade que o algoritmo causa, te deixando triste/feliz/triste/feliz para você sentir a necessidade de passar para o próximo vídeo, ela consome sua energia. os vídeos altamente satisfatórios de alguém lavando um tapete de zilhões de anos, consomem sua energia.
estou falando de qualidade de vida, no melhor sentido que essa expressão pode ter. eu sei que existe a visão de que rolar a for you é um descanso, que a-gente-escolhe-estar ali-não-é-um-vício-saio-quando-quiser, que escolhendo estar ali também conseguimos, em certa medida, escolher como nos sentimos a respeito da experiência, mas talvez seja necessário analisar a coisa mais a fundo. o algoritmo te entende mais que você mesmo ou você aceita tudo o que o algoritmo te mostra como sendo algo seu?
só falo isso porque eu tenho dias significativamente mais felizes quando estou sem tiktok. e olha que eu podia estar aprendendo várias receitas fit legais, curtindo despretensiosamente os vídeos de limpeza, mas eu fico pelo menos 20% mais ansiosa. ansiosa sentindo que preciso rolar para o próximo vídeo e aprender um novo hack de cozinha ou para postar um novo vídeos e ver quantos likes teria. o tiktok é perigoso. nada tira isso da minha cabeça. quanto maior meu consumo de redes sociais, mais frustrada eu fico ao longo do dia, mais eu tento buscar validação no outro (furada).
vida offline
sendo defensora do básico que funciona, mas também sendo high profile, não vou dizer para as pessoas largarem todas as redes sociais. dá vontade? sim. mas não funciona - não de uma vez. de redes sociais, só tenho meu instagram e tiktok ativos. a grande questão é escolher o que é significativo para você e tornar um lugar hóspito. no meu caso, eu escolhi (eu acho) o instagram.
sigo 400 contas, mutei 300 contas. não acho normal ver stories de pessoas que vi uma vez na vida, mas amo acompanhar o dia a dia de pessoas próximas.
isso vai muito de encontro com uma newsletter que vi esses dias, sobre excluir aquela pessoa que você odeia e mantem ali só por “””educação””” (educação com quem? com você mesma que não é né). como mencionei, acho que se tratássemos as redes sociais como nossa casa, se você não deixaria uma pessoa entrar na sua casa, por que deixa ela ter acesso ao seu perfil pessoal?
mas não é bem visto filtrar tanto assim. acho que o motivo mais significativo é por termos perdido a noção do que é ter privacidade.
para algo ser considerado hiperexposição hoje, tem que ser algo tremendamente cancelável, provavelmente configurando até um crime. mas talvez uma foto chorando nos stories, fotos do dia a dia dos filhos, gravar seu namorado te pedindo em namoro: tudo isso seja hiperexposição.
não existem momentos íntimos que não são compartilhados. e pra mim, é um dos básicos que funciona, apesar de estar em desuso.
além disso, normalizamos estar em dois lugares ao mesmo tempo e não estar presente em nenhum dos dois, nosso attention spam está igual de uma formiga, as coisas saem mal feitas porque nosso foco está uma merda, quando vemos que tudo ficou horrível vem aquela frustração e o dedo coça para entrar nas redes sociais e rolar o feed.
conclusão
é claro que com tudo isso é muito difícil se ouvir. é muito difícil distinguir a sua vontade da vontade do outro. é muito difícil chegar na lista do que é básico e inegociável pra você. mas saber seus inegociáveis pode ser o que você precisa. e minha dica é ir do básico (para mim: exercício, estudar, cozinhar) e entender o que funciona.
uma dica de podcast, da lelinha falando sobre a lista dela:
e fazendo sua lista, tenha em mente que talvez todo mundo esteja usando vermelho cereja, treinando para correr maratonas, acordando 04h da manhã para meditar, mas isso não seja para você. porque você pode usar azul royal, fazer pilates e ir dormir 23h todo dia e aí você não vai fazer o que os outros estão fazendo - mas vai funcionar para você.
para mim, o básico que funciona também é muito sobre se conhecer. saber dar um passo para trás quando você está prestes a fazer algo pelos motivos errados, pelos outros; esvaziar o carrinho antes de concluir a compra impulsiva; deixar comidinhas que você gosta prontas na geladeira para os dias corridos; reservar tempo para ler um livro.
coisas na minha lista de básico-que-funciona/inegociáveis do momento:
higiene do sono: celular em outro cômodo quando vou dormir, para não mexer antes de dormir nem quando acabo de acordar, ler antes de dormir.
dormir cedo para regular o relógio biológico para acordar cedo durante a semana - odeio manhãs corridas.
cozinhar para a semana. lavar um monte de louça só uma vez na semana. essential.
faxinas semanais.
atividade física quase todo dia, correr ao ar livre de vez em quando.
dias para escrever, sendo um compromisso comigo mesma.
papel e caneta para fazer listas e rascunhos. sério, mudou minha vida. me deixa menos ansiosa.
abrir mão do controle. muito se fala sobre usar o google calendar. mas às vezes é bom NÃO ABRIR o google calendar.
comprar só o que eu quero MUITO e que eu não tenho. por exemplo: se tenho um fone com fio, vou usar o fone com fio.
repetir roupa. roupas básicas e confortáveis que combinem entre si. NÃO COMPRAR aquela peça que você pensa “eu preciso disso para me sentir insira aqui a estética do momento”. não, você não precisa.
assimilar que ser para os outros é um ciclo eterno de não ser suficiente
tentar estar presente. assistir shows/viver momentos sem gravar eles. é. isso inclui sentar na mesa com quem eu gosto e não pegar o celular. não querer fazer as coisas com o objetivo máximo de tirar uma foto e postar para os outros verem.
terapia.
tomar sol. ler tomando sol.

dopamine menu
tudo que mencionei é praticamente meu dopamine menu, a forma que estou encontrando para reensinar meu cérebro que está totalmente viciado em gratificações instantâneas ao longo do dia. ironicamente, descobri esse conceito de dopamine menu no tiktok, porque virou uma trend - e depois revisitei a ideia vinda de fontes mais confiáveis.
minha fonte favorita para falar sobre dopamine menu é a emma chamberlain. ela é um ícone para mim, não só fashion (e olha que eu roubaria o guarda roupa dela). gosto muito do jeito que ela pensa e do que ela compartilha.
acho incrível que ela é uma influenciadora digital que limita seu uso de redes sociais. nos primeiros episódios do podcast, a emma reclama sobre várias das coisas que eu reclamo em toda edição dessa newsletter (autopercepção, hiperconectividade, necsesidade de agradar). e nas edições mais recentes, você vê mudanças na rotina dela que fizeram esses pontos melhorarem.
ela fala sobre a necessidade de tempo sem telas, tempo com seus loved ones e até de atividades que sejam “tediosas”, por exemplo, montar quebra cabeças e “go people watching” - sentar e observar pessoas - e fazer pinturas em aquarela. atividades que além de serem screen free, ainda são em certa medida um alimento para a criatividade.
o dopamine menu, para mim, é a lista de coisas que te trazem satisfação de forma analógica e offline. como mencionei, pode ser fazer quebra cabeças, pinturas, caminhadas, escaladas, corridas, escrever, ler ou só sentar em um parque e olhar para o nada. coisas que são o pesadelo de jovens hiperconectados que não ficam 10 minutos sem conferir as redes sociais.
that’s it, guys!!!! me empolguei nessa. estou viciada no básico que funciona.
fiquem com a minha última indicação de podcast:
Gosto muito da ideia de pensar uma lista de inegociáveis, porque se depender da demanda do trabalho e dos outros, vamos sempre abrir mão do tempo próprio, ou desperdiça-lo.
Que texto maravilhoso e que veio na hora certa pra gente repensar o que é essencial em nossa vida nesse novo ano que vem chegando! Tive muitas reflexões!