#10 me descapitalizei socialmente (removi 900 seguidores) no instagram e olha no que deu
me libertei da boca rosarização dos perfis de pessoas físicas
lado bom do autoconhecimento: se autoconhecer.
lado ruim do autoconhecimento: se autoconhecer.
como é doce o lugar da negação. foram anos fazendo as mesmas coisas e esperando resultados diferentes até que chegou o grande momento de clarividência: descobri que as redes sociais são um problema para mim e não necessariamente para as outras pessoas. “descobri” = me foi dito em terapia.
acho que todos passos que eu dei caminharam para isso.
cruzei a linha entre normal e personagem principal de adults e fui para o lado que eu não esperava: normal. normal na medida do possível, fazendo a minha parte para tentar ser social presencialmente que é o mínimo que posso fazer - e falhando, porque eu estou meio presa ao mindset protected my peace a little to hard, mas isso é assunto para outro dia. enfim, quem precisa mudar sou eu. eu que estou errada em uma realidade que ter rede social significa existir e eu não consigo ter.

eu me via jogando o celular da ponte em um acesso de raiva, tentando tanto impressionar a influenciadora digital atual do meu ex que pareceria que estou apaixonada por ela e não por ele ou passando 40min para fazer um story de um croissant (mais zoom, menos zoom, com legenda, sem legenda, legenda de texto, legenda de emoji, legenda no canto ou centralizada), coisas nesse sentido, mas perder seguidores e likes? nunca.
e agora a única conta que tenho ativa está deserta.
só que apesar de likes significarem aprovação/validação, acho que se excluir da oportunidade de estar atrás de likes significa automaticamente desaprovação e é mais negativo do que postar fotos e ter um engajamento lixo. uma coisa meio tadinha-tem-cabeça-fraca-e-não-aguenta-a-competição (porque sim, é uma competição. e sim, eu não aguento). de antemão, consigo pensar em algumas coisas que podem pensar sobre mim. apesar de nada disso ser verdade na íntegra, todas opções tem seu fundo de verdade:
tadinha, ficou maluca (quase!)
nossa, ela me odeia? (não. quer dizer, talvez não)
ela odeia todo mundo (não)
isso é falta de educação (sobre isso, ver: link)
nossa, ela não se importa (queria)
nossa, ela se importa demais (realmente)
o que ela está escondendo? (5 dias da semana usando a mesma roupa)
meu deus, que metida (problema meu!)
nossa que massa ela estar tentando construir conexões reais com base no menos é mais (difícil alguém pensar isso mas tenho esperança)
para mim, primeiramente, isso não sou eu. nada disso. segundamente, não é uma descapitalização social que vou me arrepender depois. é mais um há, saí desse jogo seus babacas! vocês não vão me ver a 1 unidade de foto minha escolhida entre 50 cuidadosamente tiradas que eu postaria numa sexta 21:00 com um fundo selecionado para as pessoas que eu quero saberem onde eu estou e onde me procurarem. spoiler: não procuraram. obs: meu deus, é insalubre ser solteira.
é que eu cansei de algumas coisas. como mencionei, cansei de postar esperando uma resposta específica que não vem de fazer o esforço de não querer essa resposta e postar algo sem significado para os outros, mas que achei bonito ou significativo para mim, e mesmo assim me frustrar porque recebi uma resposta esquisita de uma pessoa totalmente aleatória - e sentir vergonha. vergonha das coisas mais bobas: da peça de roupa jogada no chão que apareceu atrás da selfie e eu só descobri depois de 10h do story no ar. do prato de comida meio feio, da legenda engraçadinha que eu escolhi não ter tido um kkkk em resposta.
então assim, eu sou uma introvertida extrovertida que precisa de momentos de criatividade e que tem um limite de energia social meio baixo e gastava tudo em ações desconexas nas redes sociais. eu penso demais. minha bateria social estava tão viciada que eu não conseguia sem ser empática direito, julgava até a cor da parede dos outros e era uma (com o perdão da palavra) cuzona até com meus pais.
boca rosarização
nada disso faz sentido. era para o tiktok, instagram e etc serem SOCIAIS, mas agora é ridículo chamar de “sociais” esses lugares em que não existem interações sociais espontâneas, já que está todo mundo falando sozinho tentando se vender e seguindo o cronograma da boca rosa.
essa dissonância cognitiva entre quem você é como pessoa física com necessidades emocionais e fisiológicas e como marca vem do fenômeno de boca rosarização, em que pessoas viraram marcas antes de criarem suas próprias marcas. ex: malu borges e o suplemento dela, a bianca andrade que criou o canal boca rosa antes da marca boca rosa.
o personal branding é um acontecimento para o marketing, mas faz qualquer indivíduo comum com um negócio achar que tem que ter uma presença digital forte, concreta. só que a persona da sua marca não precisa ser você - às vezes, é recomendado que não seja você.
e você pessoa física definitivamente não precisa ser uma marca, amplamente coerente em toda sua linha editorial e estética, só por ser. ter todo esse trabalho não remunerado sendo que ninguém liga. talvez pessoas comuns devessem deixar o marketing digital para os marketeiros e social medias. é sério. quase ninguém repara no seu feed ser bonito ou feio (com exceção de mim, saiba que eu reparo).
para além de criar uma persona para vender seu produto, seu serviço, as pessoas querem ser personas e se vender. eu quero me vender. quero que saibam que eu leio um monte, que falo francês, que corro, que sei cozinhar. que sou interessante e meu feed sempre foi bonito. querer ser interessante é inerente ao ser humano. se podar para parecer interessante não. se privar de poder mudar de ideia, de ser desinteressante, ser banal.
eu cansei de ter que fazer a curadoria dos meus momentos mais interessantes para me autopromover tentando (literalmente) ser hankeada na vitrine online dos outros, a fim de que lembrem que eu existo. no fim, quero que lembrem que eu existo porque, veja só, eu existo! estou aqui, de carne e osso, sentada, respirando e escrevendo. tão simples quanto possível.
quem te assiste?
e veja só, não é como se eu estivesse virando uma eremita. é que eu entendi que nem 5% das pessoas que viam o que eu postava lembram que eu existo sem o estímulo da bolinha com a minha foto no feed. e que por mais que meu número seja o mesmo desde o primeiro celular que eu tive em, sei lá, 2011, não recebo mensagens inesperadas de “tudo bem?”. então as pessoas não querem muito estar presentes, mas querem saber e dissecar o que você está fazendo da sua vida. me dói perceber que quem acompanhava com afinco as minhas coisas era quem não gostava de mim.
apesar disso, especificamente sobre ter removido muitos seguidores, não é nem como se eu estivesse com medo da inveja e olho gordo alheios e prosperando em segredo, postando meu sucesso escondida. eu só não quero postar nada no instagram ou tiktok.
é que sabe aquilo de ter um detox de 15 dias, voltar e ser pior? bom, já tive uns 20 detox, já removi muitos seguidores umas 5 vezes achando que seria mais confortável. nenhuma das vezes melhorou - nem agora, que deixei 100 seguidores. pensar em apertar o botão compartilhar me dá ansiedade.
meu tempo de uso do celular não passa de duas horas por dia. as notificações ficam não lidas por uma ou duas horas ao longo do dia. estou vivendo, pessoal. abro o instagram uma vez no dia e vejo alguns stories de quem eu escolhi continuar seguindo.
qual o critério? bom, eu quero ver foto das orquídeas no quintal da minha professora de inglês de quando eu era criança. mas não quero ver alguém que vi uma vez na vida fazendo sei lá o que. não quero ver nem pessoas felizes nem pessoas se lascando de trabalhar se essas pessoas não são alguém que eu encontre e consiga ter uma conversa.
também não acho normal que alguém que eu vi em uma festa em 2015, silenciosamente, tão silenciosamente que eu fui lembrar que existia agora em 2024, acompanhava minha vida. ou ter pessoas que claramente me odeiam batendo ponto no meu perfil.
em conclusão, como uma high profile em recuperação,
talvez eu seja menos bonita, desejada e querida agora. mas, em compensação, eu sinto que liberei espaço no hd da minha mente. às vezes, parece que pode cair um alfinete que vai fazer eco - e eu posso pegar esse espaço e encher dos livros que quero ler, dos textos que quero escrever, dos idiomas que eu quero saber mais. eu tenho mais tempo, paciência, energia e empatia.
ninguém vê uma selfie online minha há um mês e, ao contrário da expectativa geral, eu sobrevivi!
hiper focos dos últimos dias
consegui desacelerar e quero registrar coisas que tenho gostado nesses últimos dias:
essa newsletter. 200 inscritos, é sério? eu não consigo nem agradecer direito porque não consigo acreditar. muito obrigada s2
o strava bonitinho com fotos das atividades. e fazer as atividades! kkkk estou viciada em correr porque agora que me mudei tem uma pista mais gostosa de correr. e estou mais descansada, então corro melhor. muito bom.
a música call it what you want. taylor, faz a boa e lança o rep tv, vai! e essa playlist aqui. viciada na vibe final de ano this the damn season.
também estou viciada em the oc. nunca tinha visto, acreditam? todo final de ano acho uma série para maratonar, não vejo a hora do recesso para assistir o dia inteiro.
meu pijama novo vermelho com corações rosa da renner.
that’s it, guys! obrigada por acompanharem a isso não sou eu :)
Sai do insta tem uns 6 meses (eu acho, parei de contar faz um tempo já). Você descreveu exatamente o que eu sentia quando ainda usava a rede. Percebi que interagia e mostrava os recortes super pensados da minha vida pra um monte de desconhecidos, mas nunca tinha energia pra conversar com minhas irmãs, meus pais, minha família.
Além disso, tinha aquela sensação de sobrecarga o tempo todo. Amigos que nunca foram tão amigos assim me cobravam presença, mandavam mensagem reclamando porque eu sempre postava fotos saindo com Fulano e Ciclano, mas nunca convidava o Beltrano. Pessoas com quem conversei 2 ou 3 vezes me colocavam no close friends, onde compartilhavam coisas íntimas: doença, fim de relacionamento, crise de ansiedade, etc; e eu me sentia na obrigação de me sobrecarregar dando apoio, mandando mensagens de “estou aqui” sendo que NÃO, eu não estava disponível, mas sentia a obrigação de dizer algo.
Enfim, sinto que hoje em dia eu voltei pra vida real. Menos estímulo, menos encenação, menos informações inúteis sobre pessoas aleatórias. Sobra tempo e energia pro que importa de verdade. Arrisco dizer que tem sido mais fácil entender quem sou, já que não preciso mais seguir um script, nem me preocupar se o Zezinho da esquina que vê meus stories vai pensar que eu sou brega. Só vou vivendo e compartilhando com quem tá perto, com quem eu converso olhando nos olhos enquanto tomo café.
Obrigada pelo texto, me fez muito bem ler você :)
Eu também já tive uns 20 detox, e nada muda. Sempre que volto achando que enfim me libertei da cobrança, lá está ela me espreitando, só esperando alguma postagem para me fazer sentir infeliz. Eu me vejo como uma viciada no instagram, toda vez que saio, sinto que meu corpo pede para eu voltar, que loucura. Foi muito bom ler o que você escreveu!